Após violações, oposição pede respeito ao cessar-fogo na Síria

(do Terra) O principal grupo da denominada
"oposição interna" na Síria
expressou neste sábado um
cauteloso otimismo com o
desenvolvimento do cessar-fogo, e
exigiu a retirada das tropas e das
forças de segurança dos centros
urbanos.
Em comunicado, a Instância de
Coordenação Nacional (ICN), uma
coalizão dos partidos políticos que
inclui os curdos e figuras
independentes, afirmou que "o
cessar-fogo se mantém em geral,
apesar das algumas violações em
vários pontos em que ocorreram
vítimas". O grupo pede a todas as
partes envolvidas no conflito e
"especialmente às forças de
segurança e às tropas do regime"
que respeitem a cessação das
hostilidades, e "retornem aos
quartéis e posições para garantir a
segurança" da população.
Por sua vez, o Movimento para a
Construção do Estado sírio, um
partido opositor formado
recentemente pelo político e ativista
Luay Hussein, disse que "os eventos
dos últimos dois dias representam
um alívio para a maioria dos sírios".
Este agrupamento assinalou que a
nova situação "passa a sensação
que uma solução política à crise é
possível, embora persista a
preocupação". Em nota, o
movimento criticou duramente o
"terrível erro" cometido por ambos
os grupos, que insistiram no
levantamento armado e na
violência, em referência à oposição
no exílio, que apoia o rebelde
Exército Livre Sírio (ELS), e ao
regime.
A "oposição interna" e a "oposição
no exílio", representada
principalmente pelo Conselho
Nacional Sírio (CNS), evidenciaram
desde o início da revolta há mais de
um ano diferenças para elaborar
uma estratégia comum contra o
regime de Bashar al Assad. Desde a
entrada em vigor do cessar-fogo na
quinta-feira, a violência diminui na
Síria, embora tanto as autoridades
quanto os grupos de ativistas
opositores acusam-se mutuamente
de não cumpri-lo.
O Observatório Sírio de Direitos
Humanos e os Comitês de
Coordenação Local denunciaram
neste sábado de que a cidade de
Homs (centro) foi alvo de
bombardeios e que na sexta-feira as
forças de segurança abriram fogo
contra manifestantes. A agência
oficial Sana informou que "um
grupo terrorista" sequestrou neste
sábado um coronel do Exército em
Hama (centro), assim como um
candidato às eleições parlamentares
e um civil em Idleb (norte). Na
véspera, a agência indicou que
terroristas assassinaram um oficial
na periferia de Damasco e um
comandante em Hama.
O cessar-fogo faz parte do plano de
paz do mediador internacional, Kofi
Annan, que estipula ainda a
libertação dos detidos
arbitrariamente e garantir o
abastecimento de ajuda
humanitária, assim como a abertura
de um diálogo político, entre outros
pontos. Estas declarações coincidem
com a votação prevista para este
sábado no Conselho de Segurança
da ONU - que se reunirá às 12h (de
Brasília) - de uma resolução que
autorize o envio de uma equipe
inicial de observadores à Síria para
comprovar o cumprimento da
cessação das hostilidades.
Damasco de Assad desafia
oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de
Tunísia e Egito e de sobreviver a
uma guerra na Líbia, a Primavera
Árabe vive na Síria um de seus
episódios mais complexos. Foi em
meados do primeiro semestre de
2011 que sírios começaram a sair às
ruas para pedir reformas políticas e
mesmo a renúncia do presidente
Bashar al-Assad, mas, aos poucos,
os protestos começaram a ser
desafiados por uma repressão
crescente que coloca em xeque
tanto o governo de Damasco como
a própria situação da oposição da
Síria.
A partir junho de 2011, a situação
síria, mais sinuosa e fechada que as
de Tunísia e Egito, começou a ficar
exposta. Crise de refugiados na
Turquia e ataques às embaixadas
dos EUA e França em Damasco
expandiram a repercussão e o tom
das críticas do Ocidente. Em agosto
a situação mudou de perspectiva e,
após a Turquia tomar posição, os
vizinhos romperam o silêncio. A Liga
Árabe, principal representação das
nações árabes, manifestou-se sobre
a crise e posteriormente decidiu
pela suspensão da Síria do grupo,
aumentando ainda mais a pressão
ocidental, ancorada pela ONU .
Mas Damasco resiste. Observadores
árabes foram enviados ao país para
investigar o massacre de opositores,
sem surtir grandes efeitos. No início
de fevereiro de 2012, quando
completavam-se 30 anos do
massacre de Hama, as forças de
Assad iniciaram uma investida
contra Homs, reduto da oposição .
Pouco depois, a ONU preparou um
plano que negociava a saída pacífica
de Assad, mas Rússia e China
vetaram a resolução , frustrando
qualquer chance de intervenção,
que já era complicada . De acordo
com cálculos de grupos opositores
e das Nações Unidas, pelo menos 9
mil pessoas já morreram desde o
início da crise Síria.

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