Assim como Lupi, número 2 do PDT também é funcionário da Câmara

(do UOL) Assim como acontecia com Carlos
Lupi, o secretário-geral do PDT está
lotado na liderança do partido, mas
quase não fica lá. Norma interna
proíbe que o trabalho fora das
dependências da Casa. Manoel Dias
ganha R$ 12 mil mensais
Considerado o número dois na
hierarquia pedetista, o secretário-
geral do PDT, Manoel Dias, destacou-
se nos últimos meses como um dos
principais líderes da “tropa de
choque” que tentou, em vão, manter
no cargo o ministro do Trabalho,
Carlos Lupi, presidente licenciado da
legenda. Além da inabalável parceria
partidária, os dois têm uma outra
coisa em comum: recebiam salário da
Câmara enquanto cumpriam
exclusivamente atividades partidárias.
Maneca, como é mais conhecido o
secretário-geral do PDT, está lotado
na liderança do partido na Câmara.
Era lá também que estava lotado
Carlos Lupi até 2006, como mostrou
reportagem do jornal Folha de
S.Paulo. Mas não fica por lá, como
admite o próprio líder, Giovanni
Queiroz (PDT-PA). Presidente estadual
da sigla em Santa Catarina, ele passa
parte do tempo no estado natal.
Quando está em Brasília, fica na sede
do diretório nacional, localizado a
poucos metros do Congresso
Nacional.
Desde 12 de setembro, o secretário-
geral do PDT ocupa um cargo em
comissão de natureza especial (CNE) e
recebe um dos maiores salários da
liderança, R$ 12 mil por mês. De
acordo com as normas da Câmara,
quem ocupa esse tipo de cargo
precisa exercer funções técnicas de
auxílio administrativo em
departamentos como lideranças
partidárias e secretarias, sempre
dentro da Casa. Não é o caso de
Maneca.
Interlocução
“Às vezes, ele fica na liderança. Antes,
ele tinha espaço na nossa assessoria
técnica. Entendemos que o espaço ali
era muito pequeno. Hoje, ele ocupa
espaço no partido e vem participar
conosco de conversas. Ele vem toda
terça-feira , quando tem pauta da
bancada, ele está presente. Ele está
sempre lá e cá. Não tem ponto fixo”,
diz Giovanni Queiroz.
O líder defende a atuação do
subordinado. “Ele faz a interlocução
entre parlamentares e o diretório,
principalmente em matérias de maior
complexidade e tensão interna, que
dizem respeito à linha programática
do próprio partido” , ressalta o
deputado paraense.
Manoel Dias diz que serve de “ponte”
entre a bancada e o diretório
nacional do partido, promovendo
debates com a participação de
parlamentares, e que não vê
problema algum em conciliar as duas
funções. “Elas se completam, porque
quando temos seminários sobre
grandes temas estamos fazendo
também o partido político” , afirma.
O secretário-geral do PDT conta que
foi dispensado de registrar o ponto
de frequência pelo próprio líder do
partido. “Há cargos que pela natureza
deles é dispensado o ponto, porque
não é um trabalho interno”, pondera
Manoel.
A Resolução 1/2007 , que trata dos
cargos em comissão de natureza
especial, permite que o líder dispense
do ponto seus assessores mais bem
remunerados, como Manoel Dias. A
mesma norma, porém, também é
clara ao proibir a lotação desses
funcionários em gabinete parlamentar
ou “fora das dependências da
Câmara dos Deputados”.
Giovanni Queiroz diz não ver
problema no fato de o companheiro
de partido não ficar nas
dependências da Casa. Para ele, o
trabalho atribuído ao colega está
sendo cumprido à risca. “Nosso
estatuto prevê que haja essa
interação. Fizemos encontros
semanais sobre questões
macroeconômicas. Ele tem feito isso
com muita maestria”, avalia o líder.
Mérito Legislativo
No último dia 30, Giovanni prestou
uma homenagem a Manoel Dias.
Indicou o colega para receber a
Medalha do Mérito Legislativo, dada
pela Câmara a personalidades que
prestam serviços de relevância à
sociedade. Outras 38 pessoas foram
homenageadas.
Na cerimônia de entrega das
medalhas, o presidente da Casa,
Marco Maia (PT-RS) , disse que a
honraria expressa o agradecimento
da Câmara pelo trabalho ético e pela
responsabilidade cívica dos
agraciados. O pedetista recebeu a
medalha das mãos de Maia e do vice-
líder do partido, deputado André
Figueiredo (CE), presidente em
exercício da legenda.
Em entrevista ao site do partido,
Maneca disse ter ficado surpreso com
a indicação e a atribuiu ao trabalho
que vem desenvolvendo para
fortalecer o PDT, com o incentivo à
qualificação e à formação dos
quadros do partido. “Me sinto
honrado em receber a medalha.
Posso entender como uma prova do
reconhecimento da importância do
meu trabalho, tanto pelo meu
partido, que me indicou, como pela
Câmara”, declarou.
Esta não é a primeira passagem do
secretário-geral do PDT pela Câmara.
Ele também esteve lotado na
liderança entre 1995 e 2006, de
acordo com os boletins
administrativos da Casa.
Lupi
Dois dias após a homenagem a
Manoel Dias, a Câmara anunciou a
instauração de uma comissão de
sindicância para apurar se Carlos Lupi
foi funcionário fantasma da Casa,
também lotado na liderança do PDT,
entre 2000 e 2006. A sindicância vai
avaliar, ainda, se o ex-ministro
acumulou o cargo de natureza
especial em Brasília com uma
assessoria na Câmara Municipal do
Rio.
Esses dois casos, revelados pela Folha
de S. Paulo, foram divulgados dias
antes de a Comissão de Ética da
Presidência recomendar à presidenta
Dilma Rousseff a demissão do
ministro. Na avaliação da comissão, as
respostas dadas por Lupi a denúncias
de irregularidades em convênios e
cobrança de propina dentro do
ministério não foram suficientes.
Mantido no cargo por Dilma, que
pediu mais explicações ao colegiado,
ele anunciou sua saída do ministério
no último domingo (4).
Durante toda a crise, Manoel Dias foi
um dos mais fieis defensores da
manutenção do ministro no cargo.
“Ele foi vítima de uma grande
sacanagem, porque o denunciaram,
mas não lhe deram direito a defesa”,
disse o secretário-geral do PDT ao
Congresso em Foco.
Trabalhismo
Aos 73 anos, Manoel Dias tem uma
história política ligada ao trabalhismo.
Filiado ao PTB, de Getúlio Vargas, teve
o mandato cassado duas vezes pela
ditadura militar nos anos 1960 (como
vereador e deputado estadual).
Depois de uma passagem pelo MDB,
participou da fundação do PDT.
Ligado ao ex-governador Leonel
Brizola, presidiu o Banco do Estado
do Rio de Janeiro (Banerj). O
secretário-geral do PDT e presidente
do diretório estadual em Santa
Catarina também preside a Fundação
Leonel Brizola/Alberto Pasqualini.
No ano passado, ele foi candidato a
vice-governador na chapa
encabeçada pela então deputada
Angela Amin (PP). Em 2002, disputou
o cargo de governador. Mas não teve
sucesso em nenhuma das duas
tentativas.

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