Eleições parlamentares no Egito começam com irregularidades e atrasos


(do UOL) A distribuição de propaganda eleitoral feita por alguns partidos em frente a pontos de votação e o atraso na abertura de colégios eleitorais são algumas das irregularidades registradas pela Junta Eleitoral egípcia nas primeiras quatro horas do pleito legislativo desta segunda-feira.

O Conselho nacional de Direitos Humanos informou que recebeu 161 queixas nas primeiras horas de votação, segundo informou a agência oficial Mena.

Em vários colégios eleitorais de bairros do Cairo, seguidores e militantes do movimento islamita da Irmandade Muçulmana entregavam folhetos do Partido Liberdade e Justiça, de acordo com informações da Agência Efe.

Outras infrações constatadas pela Efe ocorreram no colégio eleitoral Samaya, onde uma criança distribuía panfletos de um candidato independente.

Além disso, um funcionário que trabalhava nas mesas eleitorais inseriu várias cédulas em uma das urnas, e só parou quando o juiz, um dos 9.500 que supervisam os locais de votação, ordenou com gritos que parasse.

Na escola eleitoral Omar Makram, no Cairo, pediram que os eleitores que já estavam dentro do prédio aguardassem para o início da votação, porque o juiz supervisor da eleição estava atrasado, segundo a agência France Presse.
A Comissão Eleitoral informou que houve atraso para abertura de alguns colégios eleitorais porque alguns juízes eleitorais demoraram para chegar ao local "devido à chuva" que caiu ontem em todo o país.

O presidente da Comissão Eleitoral, Abdelmoaiz Ibrahim, pediu aos eleitores que se sentirem prejudicados por essas irregularidades que apresentem denúncias.

A junta militar que dirige o Egito desde a queda de Mubarak recusou expressamente o envio de observadores internacionais para acompanhar o pleito.

No domingo, o porta-voz da OEDH (Organização Egípcia para os Direitos Humanos), Sherif Etman, classificou a presença internacional nas eleições de "anedótica" e "lamentável", e argumentou que "se o governo não tem nada para esconder, a presença internacional não deveria ser um problema".

O funcionário disse que a ausência de observadores internacionais "diminuirá a credibilidade do processo", citando o exemplo da Eslováquia, que tem cinco milhões de habitantes e 5.000 observadores em suas eleições. O Egito, que tem uma população de 80 milhões, possui o mesmo número de fiscais.

Em alguns bairros, foram criados "comitês populares" para evitar violência.

Poucas horas antes do início da votação, um grupo de criminosos provocou uma explosão em um gasoduto ao oeste da cidade de El Arish, na península do Sinai. O gasoduto fornece combustível a Israel. Até o momento, as autoridades não calcularam os danos.

PARTICIPAÇÃO

Os egípcios faziam fila para votar nas eleições parlamentares desta segunda, o primeiro grande teste para o período de transição depois da derrubada do ditador Hosni Mubarak, num momento em que o conselho militar que governa interinamente o país enfrenta crescente desconfiança popular.

Quando a votação começou, às 8 horas (4 horas em Brasília), pelo menos mil pessoas faziam fila diante de uma seção eleitoral no bairro central de Zamalek, no Cairo. A fila dava a volta no quarteirão e cartazes de propaganda dos candidatos e partidos se espalhavam pelas ruas.

"Nós estamos muito felizes por estar aqui e ser parte da eleição", disse Wafa Zaklama, de 55 anos que pela primeira vez votava numa eleição parlamentar. "Que sentido havia antes em votar?", perguntou ela.

Depois das eleições na Tunísia e no Marrocos, o Egito é o terceiro país a realizar eleições gerais após a "Primavera Árabe".

A primeira fase da eleição parlamentar, nesta segunda-feira, inclui Cairo e Alexandria. Pelo sistema eleitoral egípcio, a eleição será por etapas e só terminará em 11 de janeiro.
Quase 40 milhões de eleitores, de 82 milhões de egípcios, estão registrados para votar. No total, serão eleitos 498 membros da Assembleia do Povo (Câmara dos Deputados) e outros dez serão nomeados pelo marechal Hussein Tantawi.

No domingo, Tantawi convocou os egípcios a comparecerem massivamente "para fazer surgir um Parlamento equilibrado que represente todas as tendências".

Muitos partidos foram criados nos últimos meses, depois da destituição de Mubarak, em fevereiro. Durante o período em que ele governou o país, as eleições eram rotineiramente fraudadas e seu partido, o Democrático Nacional, conquistava repetidamente a maioria esmagadora das cadeiras no Parlamento.

O movimento da Irmandade Muçulmana, a força política mais bem estruturada do país, mas há muito tempo na ilegalidade, formou o partido Liberdade e Justiça para participar desta eleição, da qual espera sair como grande vencedor.

Há ainda uma dezena de partidos salafistas (muçulmanos fundamentalistas), liberais ou de esquerda, a maioria muito recentes.

Muitos membros do ex-partido de Hosni Mubarak, hoje considerado ilegal, participam da eleição como independentes ou em novas legendas.

A campanha eleitoral foi ofuscada pelo aumento dos protestos violentos contra o comando militar, que deixaram 42 mortos e 3.000 feridos nos últimos dias.

O futuro Parlamento estará encarregado de nomear uma comissão que deverá redigir uma nova Constituição, etapa decisiva para a transição do país para a democracia, prometida desde o levante popular que provocou a queda de Mubarak.
PROTESTOS

Mubarak foi deposto em fevereiro deste ano, após semanas de revoltas populares que tinham como principal localidade a praça Tahrir. Atualmente, ele é julgado pela repressão de suas forças de segurança aos protestos no começo do ano.

Há semanas, manifestantes retornaram ao local e prometeram que não sairiam enquanto o conselho militar não transferisse o poder para um conselho presidencial civil.

No sábado, novos distúrbios aconteceram, quando os presentes marcharam em direção a prédios governamentais para demonstrar o descontentamento com a indicação de Kamal Ganzouri como primeiro-ministro pelas Forças Armadas.

Durante os protestos, um rapaz morreu ao ser atropelado por uma viatura policial. O Ministério do Interior lamentou a morte do manifestante e disse que o que aconteceu foi um acidente. O governo, porém, afirmou que parte da culpa foi dos presentes, que jogaram coquetéis molotov contra os policiais.

IMPASSE

Os manifestantes que ocupam a praça Tahrir pedem que o Exército deixe imediatamente o poder. Também exigem que os responsáveis pelas mortes de mais de 40 pessoas durante os confrontos dos últimos dias sejam julgados.

A mobilização popular lembra a rebelião que derrubou em fevereiro o ditador Hosni Mubarak. Os manifestantes voltaram às ruas do Cairo e de outras cidades, depois de o governo provisório divulgar um anteprojeto constitucional que blindaria as Forças Armadas de qualquer supervisão civil, o que, segundo eles, concentraria o poder.

Tentando acalmar a situação, a junta militar demitiu o primeiro-ministro Essam Sharaf e prometeu antecipar em seis meses a eleição presidencial, inicialmente programada para o final de 2012. Na sexta-feira, Kamal Ganzouri --um ex-premiê do regime de Mubarak-- foi nomeado primeiro-ministro para comandar um gabinete de salvação nacional.

A nomeação não acalmou os manifestantes, que ao longo da última semana entraram em confronto com a tropa de choque da polícia em diversas ocasiões, apesar de diversas tréguas temporárias.
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