Talibãs paquistaneses buscam novo líder e Islamabad critica EUA

Hakimullah Mehsud em imagem de arquivo de 2008 Foto: AP
Hakimullah Mehsud em imagem de arquivo de 2008
Foto: AP
O Conselho Central dos talibãs paquistaneses se reúne neste sábado para escolher seu novo líder, após a morte na sexta-feira de Hakimullah Mehsud, atingido por disparos de um drone americano, em um incidente que não deve afetar as negociações de paz, segundo o governo.

Hakimullah Mehsud, que foi promovido líder do Tehrik e Talibã Paquistanês (TTP) em 2009, após a morte de seu mentor, Baitullah Mehsud, foi morto com outras quatro pessoas por um drone (avião não tripulado) perto de Miranshah, capital do Waziristão do Norte, no noroeste do Paquistão, reduto do movimento jihadista na região.

O funeral dos cinco homens ocorreu sexta-feira à noite, na presença de comandantes e partidários do TTP. Na madrugada deste sábado, a "shura" dos talibãs - o conselho supremo da rebelião - começou a se reunir em um local secreto a fim de escolher um sucessor para Mehsud, informaram à AFP fontes ligadas ao grupo.

"O conselho central escuta as opiniões de todos os seus membros e comandantes", declarou um insurgente que não quis se identificar. "A escolha poderá demorar porque os membros da "shura" mudam constantemente o local do encontro" por razões de segurança, acrescentou.

Nesta manhã, uma dúzia de líderes tribais e insurgentes abriram fogo contra um drone americano que sobrevoava a baixa altitude Miranshah, segundo testemunhas. "Eles dispararam com armas ligeiras e metralhadoras" contra o drone, disse à AFP Tariq Khan, um comerciante de Miranshah.

Nesta cidade de áreas tribais, os habitantes temem represálias do Talibã. "As pessoas estão com medo. A morte de Hakimullah Mehsud cria incerteza. Todo mundo fala sobre uma possível vingança do Talibã", acrescentou Khan.

Estas preocupações são compartilhadas pela imprensa paquistanesa, que prevê uma nova onda de ataques em todo o país, principalmente contra as forças de segurança no noroeste do Paquistão, acusadas pelos rebeldes de fornecer aos Estados Unidos informações sobre a localização de membros da TTP.

"O futuro das negociações de paz será difícil. Será um desafio, porque muitos tentam sabotá-las", declarou Jan Achakzaï, porta-voz da Jamaat Ulema-e-Islã (JUI-F), partido islâmico responsável por estabelecer contato entre os rebeldes e o governo.

Enquanto muitos jornais e políticos criticavam neste sábado o ataque americano, oficialmente considerado "contra-produtivo" por Islamabad, alguns viram uma oportunidade para o governo.

A morte de Hakimullah Mehsud ocorreu em um contexto delicado, quando o governo paquistanês se preparava para enviar uma delegação na esperança de iniciar as negociações de paz formais com os insurgentes.

O Paquistão, que também convocou o embaixador dos Estados Unidos em Islamabad, acusou no sábado os americanos de "sabotarem" os esforços de negociação com os talibãs paquistaneses.

O ministro do Interior, Chaudhry Nisar, disse que "todos os aspectos" da cooperação com Washington deveriam ser revistos. Quando Mehsud morreu, um grupo de religiosos havia se programado para um encontro com representantes do TTP, afirmou Nisar em uma coletiva de imprensa. "Vocês o mataram 18 horas antes de uma delegação oficial viajar para Miranshah", disse Nisar, referindo-se aos Estados Unidos.

Muitos comentaristas e políticos do Paquistão acusam os Estados Unidos de desejarem "sabotar" essa tentativa de negociações ao atingir o chefe do TTP. "Uma coisa está provada: os ataques com drones sempre sabotam os esforços para as negociações de paz", declarou Imran Khan, líder do PTI, partido à frente do governo de Khyber Pakhtunkhwa, província vizinha das zonas tribais. "Isso prova que (os Estados Unidos) não querem a paz no Paquistão", ressaltou.

No entanto, para o ministro paquistanês da Informação, Pervez Rasheed, a morte de Hakimullah Mehsud não irá comprometer as negociações de paz entre os rebeldes islamitas e o governo de Islamabad. "Podemos dizer que os disparos do drone visavam os negociadores da paz, mas não deixaremos que as negociações morram", declarou Rasheed durante uma coletiva de imprensa neste sábado.

"A guerra só alimenta o fogo. Nosso governo quer jogar água sobre a guerra e sobre o fogo", e por isso defendemos o diálogo com os insurgentes, acrescentou.

De acordo com vários funcionários e documentos divulgados nos últimos anos, Islamabad deu permissão para alguns desses ataques polêmicos, pedindo, inclusive, aos Estados Unidos que atingissem alguns alvos específicos.

"O Paquistão está envolvido em um jogo duplo. Por um lado apoia os Estados Unidos e, por outro, quer dialogar conosco. Conversaremos com o Paquistão quando os ataques com drones tiverem parado", disse Azam Tariq, um comandante dos insurgentes, esclarecendo, porém, que o caminho a ser seguido será determinado pelo conselho central dos talibãs.
AFP
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