Julgamentodurou mais de dez horas
Os advogados de Beira-Mar pediram a suspensão da audiência. Eles alegavam que nenhuma das seis testemunhas - quatro de acusação e duas de defesa - compareceu ao tribunal, mas a sessão foi mantida e o julgamento durou mais de dez horas. Perguntado a Beira-Mar se este preferia o silêncio, o traficante resolveu responder as perguntas. Negou ser o mandante das execuções. "Tanto que eu mandei socorrer o Adailton, que era meu olheiro na comunidade". O traficante alegou ter determinado a realização de uma reunião na favela para esclarecer os motivos de um racha entre traficantes do local. Na época, Beira-Mar estava em Bangu I e dava ordens usando um dos telefones celulares que ficavam à sua disposição na penitenciária. Beira-Mar admitiu ter mentido em interrogatório anterior, quando dissera que não tinha conhecimento das mortes e que a voz detectada em interceptações telefônicas da Polícia Federal não era dele. "Hoje, tenho uma outra visão de mundo, faço Teologia à distância e quero pagar o que devo à Justiça. Mas quem ouve essas gravações percebe que não ordenei a morte de ninguém", afirmou. A defesa tentou desqualificar as provas apresentadas pelo MP contra Fernandinho Beira-Mar. "São provas ilícitas, gravações obtidas sem autorização da Justiça. Mas qualquer acusação que envolva o Luiz Fernando tem um peso muito forte. Neste caso, a Constituição está sendo violada pela promotoria", acusou o advogado Wellington Corrêa. O promotor rebateu. "O acusado e a defesa mostram muita naturalidade diante da perda de duas vidas. Parece que matar se tornou uma coisa banal", disse Marcelo Muniz. A denúncia contra Beira-Mar foi oferecida em 2002 pelo MP na 4a. Vara Criminal de Caxias. No entanto, o processo acabou sendo transferido para a capital depois que alguns jurados procuraram o Judiciário e relataram o temor de participar da sessão, já que moravam próximos da comunidade Beira-Mar, reduto do traficante.
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