'Foi coisa do momento', diz defesa de Cachoeira sobre declaração

Nabor Bulhões, advogado de defesa do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, afirmou nesta quarta-feira que a declaração feita por seu cliente no início da noite de ontem, ao deixar o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), foi "coisa de momento", e que Cachoeira deve prosseguir sem dar entrevistas. Por volta das 18h50 de terça, de dentro do carro, o contraventor desabafou a jornalistas que "o PT sabe que eu sou o 'garganta profunda' do PT". "Eu o desaconselhei a falar", afirmou Bulhões ao S8 nesta quarta-feira. "Foi coisa de momento, ele não dará entrevista", acrescentou. O desabafo de Cachoeira ocorreu após mais um episódio na novela jurídica que envolve sua manutenção na prisão. Após 265 dias preso, o bicheiro deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília no dia 21 do mês passado. No entanto, em 7 de dezembro, última sexta-feira, voltou a ser preso por decisão do juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, em razão de diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo. Na tarde de ontem, mais uma reviravolta: ao apreciar liminarmente o habeas-corpus apresentado pela defesa do réu, o magistrado Tourinho Neto entendeu não haver motivo para manter Cachoeira preso. Ainda na mesma ocasião, Cachoeira indicou estar com vontade de contar sua versão do processo que o levou a prisão. “Cabe recurso total (do processo). O que fizeram aí foi um estupro. Descobriram o garganta profunda de Watergate. E depois eu vou falar quem que é o garganta profunda: posso falar que é do PT”, disse. Cachoeira disse que iria pedir ao advogado Nabor Bulhões permissão para que ele fale amanhã o que até agora não falou. E citou a CPI do Cachoeira no Congresso. “Agora eu acho que vou falar realmente. Amanhã tem a coisa da CPI, né, o relatório final. Vou falar de alguns personagens que a Delta tem diretamente participado na vida deles e que hoje estão na CPI fazendo um relatório totalmente sem escrúpulo nenhum”, disparou. Repouso total Vanessa, irmã de Andressa Mendonça, a companheira de Cachoeira, afirmou ao Terra que o contraventor "está de repouso total, está sendo assistido de perto pela Andressa". Segundo ela, depois da soltura no início da noite de ontem, Cachoeira teria passado mal e recebido a visita de César Leite, médico da família. Vanessa contou que o bicheiro chegou da prisão "muito alterado", e o médico recomendou "repouso absoluto". Desde o fim da noite de ontem até pouco antes das 10h, segundo Vanessa, Cachoeira não havia saído do quarto. Andressa Mendonça cuidava dele. Ainda na manhã de hoje, a companheira mandou a portaria do prédio informar aos jornalistas que Cachoeira não vai falar com a imprensa e que ele não vai a Brasília. Ainda segundo Vanessa, o médico de Cachoeira aumentou a dose de alguns remédios que o bicheiro já estava tomando para controlar o estresse e a depressão. Logo após a primeira vez em que foi solto, Cachoeira foi internado com quadro agudo de diarreia e náuseas, além de taquicardia e desidratação, o que provocou uma perda de 18 kg. Cachoeira estaria com estresse agudo, transtorno de conduta e reação mista depressiva. Carlinhos Cachoeira Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão. Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda. Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos. Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado. Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto. No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça. No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa ainda pode recorrer da decisão.
 
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