Quando a arte ia para as Olimpíadas

De 1912 a 1948, modalidades artísticas como pintura e escultura integraram os Jogos Olímpicos
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Série de pinturas vencedora em Paris (1924)
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(do Santa)Enquanto a Vila Olímpica estiver aberta para os jogos que se estenderão de sábado até 12 de agosto, Londres será tomada também pelas exibições artísticas da Olimpíada Cultural. Sua principal atividade, o London Festival, promoverá até setembro 12 mil eventos culturais em todo o Reino Unido. Diferentemente do braço esportivo, o cultural não vale medalha. Mas já valeu. A mesma Londres, em 1948, sediou a última Olimpíada com as inusitadas competições artísticas. A tradição foi inaugurada pelo fundador dos Jogos Olímpicos modernos, o belga Pierre de Coubertin, em Estocolmo, em 1912. Coubertin fez o que considerava uma de suas grandes contribuições para o evento que ele criara 18 anos antes: a inclusão das categorias música, pintura, arquitetura, escultura e literatura. – A visão de Coubertin era criar a Olimpíada Moderna nos moldes dos Jogos Olímpicos antigos. Então, sentiu que os jogos deviam incluir artes – explica, por e-mail, Richard Stanton, autor de The Forgotten Olympic Art Competitions (As competições olímpicas de arte esquecidas, em tradução livre), publicado em 2001. Concorriam trabalhos elaborados nos quatro anos entre a Olimpíada corrente e a anterior, e que aludissem aos próprios Jogos – daí serem comuns pinturas e esculturas inspiradas em modalidades diversas e projetos para arenas. Atletas e artistas Mais de 2 mil artistas de todo o mundo inscreveram trabalhos nas competições ao longo de sua existência. Muitos eram amadores, e era comum que alguma categoria acabasse por dar apenas medalhas de bronze, na falta de trabalhos considerados merecedores do ouro. Com efeito, alguns dos competidores eram também atletas, e houve quem ganhasse, em uma mesma edição, medalhas de artes e esportes, como o americano Walter W. Winans, que em 1912 levou prata por tiro ao alvo e ouro pela recém-inaugurada modalidade escultura. Subjetividade em xeque Em cada disciplina, havia comissões julgadoras específicas para apontar vencedores. Formadas por especialistas de diversas nacionalidades, não impediam, no entanto, que o julgamento dos trabalhos concorrentes fosse sempre polêmico. É o que assegura a chefe de pesquisa do Instituto de Capital Cultural da Universidade de Liverpool, Beatriz Garcia – responsável por produzir pareceres para o Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a Olímpiada Cultural de Londres neste ano. – Os trabalhos eram julgados de acordo com padrões ocidentais clássicos. Foi ficando mais difícil à medida que mais países participavam dos Jogos e traziam com eles tradições além da Europa e do cânone ocidental – diz Beatriz. Mas o real motivo para o fim das artes tem mais a ver com a morte de Coubertin, em 1937, e com a posse do americano Avery Brundage na presidência do COI, em 1951. Brundage acreditava que a Olimpíada devia ser disputada por amadores, e cada vez mais os artistas participantes eram, aos olhos dele, profissionais. O legado Para Beatriz, o legado das modalidades artísticas é inegável, a começar pela atual Olimpíada Cultural, derivada das exibições de arte que sucederam as competições a partir de 1952. E há a herança arquitetônica em projetos criados por competidores. É o caso do Estádio Olímpico de Amsterdam, cujo projeto deu ao holandês Jan Wils a medalha de ouro nos Jogos de 1928.
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