(do Terra) Centenas de passageiros esgotados,
mas aliviados, do "Costa Allegra"
desembarcaram nesta quinta-feira
nas ilhas Seicheles, depois de três
dias de angústia num cruzeiro sem
eletricidade, banheiro ou alimentos
quentes depois de um incêndio no
Oceano Índico.
Segundo o capitão do cruzeiro,
Niccolo Alba, os passageiros
chegaram a ser preparados para
uma evacuação depois do incêndio.
"Os passageiros foram equipados
para serem retirados; colocaram os
coletes salva-vidas e foram levados
até os botes", contou Alba em uma
coletiva de imprensa realizada
pouco depois de chegar em terra,
ao porto de Mahé, principal ilha do
arquipélago.
Segundo Alba, visivelmente alterado
e com uma barba de quatro dias, a
situação de emergência durou cerca
de três horas até ter certeza de que
o fogo estava totalmente apagado.
As chamas foram controladas em
menos de uma hora, assegurou.
"Foi algo atroz", declarou, por sua
vez, à AFP Henri, um francês de 82
anos.
"O primeiro dia não foi tão difícil,
mas a situação piorou
gradualmente. Não havia luz, nem
banheiro, e eu tinha dificuldade
para dormir no convés, com tantas
pessoas apinhadas", acrescentou o
passageiro, que não quis dar o
nome completo.
"Foi uma viagem esgotante",
confirmou Alena Daem, uma
passageira belga de 62 anos,
acrescentando que se sentia
exausta, mas contente por tudo ter
terminado. "Tivemos de dormir no
convés por causa da falta de ar
condicionado e o cheiro nas cabines
porque não podíamos usar o
banheiro", explicou. "Havia
alimentos, mas nada para comer
que tivesse de ser cozido. Comemos
muito pão", acrescentou.
Os passageiros foram recebidos com
gritos de alegria pelo comitê de
boas-vindas organizado pelas
autoridades das ilhas Seicheles,
assim como por jornalistas em busca
de seus testemunhos. Os turistas,
desorientados, fatigados, mas com
um sorriso de alívio, procuravam
por sua bagagem, colocadas no
cais.
Desde terça-feira, o "Costa Allegra",
que transportava aproximadamente
mil pessoas a bordo, foi rebocado
por uma embarcação de pesca
francesa até o Porto de Victoria e
escoltado pela Guarda Costeira das
Seicheles para fazer frente a um
eventual ataque de piratas somalis.
Na segunda-feira, o navio sofreu um
incêndio na sala de máquinas que
paralisou os motores e provocou
uma falha geral, mas sem causar
vítimas. No entanto, testemunhos
indiretos já haviam revelado que os
passageiros se viram obrigados a
dormir na ponte devido ao calor e à
escuridão que reinavam no cruzeiro.
No Porto de Victoria, os tripulantes
ajudavam os passageiros a se
orientar. Dezesseis ônibus foram
disponibilizados para levá-los para o
aeroporto, onde dois aviões,
fretados pela companhia Costa,
decolarão com direção à Europa.
Mais da metade dos 627 passageiros
decidiram, no entanto, continuar
com suas férias nas Seicheles, pagas
pela companhia.
"Será difícil organizar a chegada,
porque muitas pessoas decidiram
ficar aqui para passar as férias, mas
elas poderão descansar e desfrutar
do Carnaval (previsto para sexta-
feira nas Seicheles), e deste paraíso
terrestre", prometeu o diretor do
Departamento de Turismo local,
Alain St Ange.
Além dos passageiros de 25
nacionalidades diferentes - em sua
maioria, italianos, franceses e
austríacos - o "Costa Allegra", um
porta-aviões de 188 m transformado
em barco de cruzeiro, transportava
413 tripulantes.
Este incidente ocorreu no pior
momento para o armador Costa
Cruzeiro, uma filial da gigante
americana Carnival, objeto de
inúmeros processos depois do
naufrágio de outro de seus barcos,
o "Concordia", em um acidente que
deixou 32 mortos em 13 de janeiro
perto da ilha italiana de Giglio.
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