Mesmo sem acordo, ônibus voltam a circular amanhã em Porto Alegre

Apesar da manutenção da greve, categoria garante o retorno de 100% da frota de ônibus às ruas de Porto Alegre já nesta terça-feira

Proposta de fim do banco de horas provocou "racha" no movimento grevista Foto: Marcelo Backer / Terra
Proposta de fim do banco de horas provocou "racha" no movimento grevista
Foto: Marcelo Backer / Terra
Em assembleia marcada pela divisão da categoria, os rodoviários de Porto Alegre decidiram na noite desta segunda-feira recusar o acordo encaminhado mais cedo em audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Apesar da manutenção da greve, os motoristas e cobradores determinaram a retomada da circulação de 100% da frota de ônibus já na manhã desta terça.

Segundo os líderes rodoviários, o serviço será mantido de forma integral pelo menos até o dia 17, data prevista para que a Justiça do Trabalho julgue a ação de dissídio coletivo da categoria. Dependendo do resultado do julgamento, não estão descartadas novas paralisações.

Principal novidade em relação às propostas de acordo anteriores, o fim do banco de horas foi justamente o fator que definiu o "racha" do movimento, já que não era considerada um avanço para funcionários da Carris, empresa pública que já não conta com essa modalidade. Para motoristas e cobradores das empresas privadas, no entanto, a proposta era vista como "a maior conquista da categoria nos últimos anos". Apesar disso, ao fim da votação prevaleceu a vontade do grupo liderado pelos funcionários públicos.

Além do fim do banco de horas, o acordo intermediado pelo TRT, proposto pelo sindicato patronal, previa 7,5% de reajuste salarial, aumento de R$ 3 no vale-alimentação e contribuição de R$ 10 de cada funcionário para o plano de saúde e o fim do banco de horas.

Tensão
Com início previsto para as 19h30, a assembleia começou com uma hora de atraso, motivado pela demora na liberação da entrada dos rodoviários, que precisavam se identificar na porta do ginásio municipal Tesourinha. Quando cerca de metade do público ainda estava do lado de fora, a chuva forte que atingiu a capital gaúcha na noite desta segunda causou empurra-empurra, princípio de tumulto e queda de energia.

Presidente da comissão que negocia em nome da categoria, Alceu Weber foi a primeira liderança a discursar ao microfone. Recepcionado por um misto de aplausos e vaias (sendo chamado até mesmo de "vendido" por um grupo presente na arquibancada do ginásio), Weber apelou "à razão" dos colegas. O rodoviário também classificou como um "erro estratégico" o fato de o movimento ter "entrado na ilegalidade" ao descumprir medidas judiciais que estipulavam a manutenção de frota mínima nas ruas da capital gaúcha. "Quem começou a greve, termina a greve. Entendam uma coisa: não passando por assembleia, não existe acordo para término de greve", ressaltou Weber, que previa ter chegado "o momento de decisão".

"Nós temos três possibilidades hoje", anunciou Weber: "uma é encerrar a greve e partir para o trabalho amanhã (terça-feira). Agora, se decidir manter a greve, tem outras duas questões: mantemos o movimento na ilegalidade ou cumprimos a liminar imposta pela Justiça (de frota mínima de ônibus)".

Interrompido por manifestações contrárias e favoráveis, Weber, porém, alertou os colegas de que o julgamento do dissídio coletivo não é garantia de vitória para a categoria. "Se o cenário se encaminhar para a judicialização, nós poderemos ter ganhos e perdas", disse.

Funcionário da Carris, Maximiliano da Rocha desceu das arquibancadas e pediu a palavra para discursar em favor da manutenção da greve. "Nunca antes na história de Porto Alegre teve uma greve assim. Nós fizemos a maior greve rodoviária que Porto Alegre já viu. (...) Eu prefiro morrer lutando a morrer me ajoelhando. Não tem história, é greve até a vitória", discursou, angariando gritos de apoio de parte dos rodoviários.

Sindicato lamenta decisão
Confirmada a manutenção da greve, o diretor de Divulgação e Propaganda do Sindicato dos Rodoviários, Emerson Dutra, o "Balinha", não escondia a frustração pelo resultado da assembleia. "É lamentável. Há 12 anos existe esse banco de horas, e é um verdadeiro câncer para o trabalhador. É uma das nossas maiores conquistas e a gente perde porque a Carris não tem banco de horas", queixou-se.

Resignado, Alceu Weber creditou a decisão "à incompreensão" por parte dos rodoviários em relação às conquistas garantidas no acordo. "Os funcionários da Carris não têm o banco de horas, mas essa decisão teria impacto direto nas jornadas entre os intervalos, que garantiriam o pagamento de horas extras aos trabalhadores", disse.

Apesar da divisão em relação à greve, o presidente da comissão destacou a unidade do movimento quanto à retomada da circulação dos ônibus. "A liminar estipulava 70% dos ônibus circulando nos horários de pico e 30% nos demais horários, e a categoria decidiu superar essa decisão, colocando desde já 100% nas ruas. É algo que nem a prefeitura, nem as empresas tiveram coragem de fazer, garantir o serviço mesmo sem nada definido", afirmou.
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