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Segundo um oficial da corporação, ligado ao Estado-Maior da PM, uma nova estratégia de atuação da inteligência nas manifestações vem sendo discutida. Ele, no entanto, não quis revelar, por motivos de segurança, quais possibilidades são essas. Ele admitiu que chegou-se a cogitar o afastamento desses homens por um período, já que os P2 estão sendo bastante visados por manifestantes.
“Têm ocorrido muitas represálias a pessoas que eles julgam ser policiais. Houve casos em que realmente eram, mas houve situações em que essas pessoas nada tinham a ver. Mas está chegando a um ponto que alguém poderá se machucar”, afirmou, pedindo anonimato.
“Mas, como vai se tirar um policial do meio de um protesto em que há vândalos mal intencionados? Essas pessoas que vão cometer crimes têm que ser identificadas, e isso passa pelo trabalho de inteligência”, acrescentou.
Após ser acusada de infiltrar policiais para causar confusão nos protestos, a PM divulgou nota afirmando que os agentes acompanham as manifestações para obter informações e prever movimentos. A PM ressaltou que os agentes de inteligência trabalham apenas com observação.
“Imaginar que um policial vá atirar um coquetel molotov em colegas de profissão, colocando suas vidas em risco, é algo que ultrapassa os limites do bom senso e revela uma trama sórdida para justificar a violência criminosa desses vândalos”, diz a nota.
Paralelo a isso, a PM partiu para o ataque também nas redes sociais. O perfil da instituição no Twitter, que já tinha protagonizado um bate-boca com o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), atacou também a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), acusando a instituição de atrapalhar o trabalho da polícia, ao colocar advogados para verificar os direitos de manifestantes detidos. Imagens de pessoas detidas também foram exibidas pela PM na internet.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

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