Advogado de dono da Kiss pede prorrogação da prisão de seu cliente

Defensor disse que não quer que inquérito seja concluído sem apontar todos os responsáveis

O advogado anunciou que pedirá a prorrogação da prisão preventiva de seu cliente, por entender que o inquérito não deve ser concluído agora Foto: Luiz Roese / Especial para Terra
O advogado anunciou que pedirá a prorrogação da prisão preventiva de seu cliente, por entender que o inquérito não deve ser concluído agora
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da Boate Kiss, entrou com um pedido inusitado na Justiça na tarde desta segunda-feira: ele quer que a prisão temporária de seu cliente, que termina no próximo domingo, dia 3 de março, seja prorrogada por mais 30 dias. Essa não foi a única solicitação encaminhada ao juiz Ulysses Fonseca Louzada, da 1ª Vara Criminal de Santa Maria. Marques quer ainda, que o inquérito policial não seja dado como concluído sem que todas as responsabilidades sejam apontadas, restrigindo-se somente ao núcleo do qual fazer parte os quatro presos: os sócios da Kiss, Kiko Spohr e Mauro Hoffmann, e os dois integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Bonilha Leão. Veja quem são as vítimas do incêndio em boate de Santa Maria Veja como a inalação de fumaça pode levar à morte Veja relatos de sobreviventes e familiares após incêndio no RS "Não é possível que o inquérito seja concluído nesta semana com a declaração da autoridade policial de que não encerrou a investigação", declarou o defensor. Jader Marques afirma que a intenção do pedido de prorrogação da prisão de Kiko Spohr é que ele fique à disposição da Polícia Civil para eventuais acareações e reconstituições que se fizerem necessárias. O advogado manifestou que o dono da Kiss gostaria de ficar frente a frente com pessoas que teriam dado na polícia, na visão dele, versões que não seriam verdadeiras. "Esse pedido (de prorrogação da prisão) é um dos mais difíceis da minha carreira", disse Marques, ressaltando que a solicitação se refere somente a seu cliente e que ele não conversou com os advogados dos outros presos. Entre as pessoas com quem Kiko desejaria acarear está o tenente-coronel da reserva dos bombeiros Daniel Adriano, que assinou o primeiro alvará de prevenção contra incêndio da Kiss, além de outros dois oficiais da corporação. O empresário também gostaria de confrontar versões com o engenheiro da obra de isolamento acústico da casa noturna, com uma ex-funcionária da boate e dois membros da banda Gurizada Fandangueira. O advogado também ressaltou que Kiko gostaria de voltar à boate para explicar detalhes sobre a espuma colocada e que seria a principal responsável pelas mortes. Marques explicou que a prorrogação seria possível porque o primeiro pedido de prisão temporária por cinco dias foi baseado na Lei 7960/89, que estipula as condições para ela. Na ocasião do pedido feito pela Polícia Civil e concedido pela Justiça, o caso da tragédia da Kiss ainda seria investigado como homicídio culposo (sem intenção). Na solicitação de prorrogação da prisão por mais 30 dias, a base jurídica seria a Lei dos Crimes Hediondos, pois o inquérito já tinha elementos que apontavam para um homicídio doloso qualificado (com o componente jurídico do dolo eventual, em que a pessoa assume o risco de matar). Na interpretação do advogado Jader Marques, como o primeiro pedido de prisão foi baseado em uma lei, e o seguinte já teve como base a Lei dos Crimes Hediondos, que permite a prorrogação por mais 30 dias, ele teria argumentos para manter seu cliente preso. O pedido de prorrogação da prisão não foi o único feito nesta segunda-feira pelo advogado. Ele também quer que a namorada de Kiko, que está grávida, seja ouvida no inquérito policial, o que ainda não ocorreu. A intenção do defensor - que mostrou um vídeo com um depoimento gravado com a mulher durante entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira - é mostrar que seu cliente não poderia "assumir o risco de matar" com a namorada dele, esperando o filho dele, dentro da boate. "Ela é uma vítima e ainda não foi ouvida", destacou Marques. Outro pedido feito por Marques deve gerar polêmica. Ele quer saber se houve uma ordem para a liberação dos corpos das vítimas da tragédia sem uma perícia técnica, às pressas. "Há dúvida sobre a capacidade do cianeto de provocar as mortes. Se os corpos foram liberados sem perícia, foi um atentado grave à investigação", afirmou Jader Marques. Se isso realmente aconteceu, ele disse que ainda não sabe como irá proceder. Nesta segunda-feira, o advogado de Kiko entregou nove caixas com notas fiscais de compras da Boate Kiss, que estariam com o contador. Ele também deu depoimento no Inquérito Policial Militar que investiga a atuação dos bombeiros na tragédia.
 
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