Venezuela encerra retirada de detidos de prisão após motim

Policiais montam guarda em frente ao necrotério para onde os corpos foram levados Foto:  / AP
Policiais montam guarda em frente ao necrotério para onde os corpos foram levados
Foto: AP

O desalojamento da prisão de Uribana (nordeste), onde na sexta-feira um motim deixou 61 mortos, segundo fontes hospitalares, terminou na manhã deste domingo, enquanto diversos familiares se perguntavam sobre o destino de alguns dos presos.
"Termina a retirada dos privados de liberdade da Prisão de Uribana! Agora vamos à reconstrução!", escreveu em sua conta no Twitter a ministra de Assuntos Penitenciários, Iris Varela, que ainda não forneceu um número oficial de vítimas do motim. "Na prisão não há ninguém", confirmou à AFP o pastor evangélico Santiago Travieso, que colaborou no processo de desalojamento durante a noite dialogando com os réus.
Nos arredores da prisão, localizada no estado de Lara, os réus gritavam dos ônibus o nome das prisões para onde eram levados, enquanto seus familiares os seguiam com olhar preocupado, agitando os braços. "Meu irmão vai para Guanare (noroeste). Não é igual a tê-lo por perto, mas onde ele vai, com a luta irei", disse à AFP Carmen Escalona. Seu irmão José, de 32 anos, está preso há quatro anos "por estar junto de um amigo que roubou um taxista", disse.
A esta angústia se somava a de outras pessoas que ainda não sabem o que ocorreu com seus familiares presos. "Meu filho (Henry, de 24 anos) está desaparecido desde sexta-feira. Aparece (nas listas) como ferido. Eu o procurei" em vão, gritava Mariela Torrealba. "É uma angústia desesperadora", soluçava.
Varela informou no sábado sobre a decisão de esvaziar totalmente a prisão de Uribana, uma operação que finalmente ocorreu na madrugada deste domingo tranquilamente e sem que os réus opusessem resistência. "Fazemos uma inspeção corporal, sua revisão (...) e determinamos para quais prisões eles querem ir", explicou Varela de madrugada à rede de televisão estatal VTV, detalhando que agora será feita "uma inspeção profunda" no centro, antes de reformá-lo para voltar a transferir os presos.
Na sexta-feira, uma inspeção em busca de armas em Uribana provocou um motim de um grupo de presos armados, que "arremeteram contra os efetivos da Guarda Nacional", explicou anteriormente a própria ministra.
Entre as vítimas que chegaram ao Hospital Central Antonio María Penida, em Barquisimeto, há 61 falecidos e 120 feridos, 90 dos quais receberam alta, informou neste sábado à AFP o diretor do centro, Ruy Medina, que atendeu à emergência. Os demais feridos evoluem satisfatoriamente, disse. Medina informou que todos os falecidos que chegaram ao necrotério do hospital eram presos.
Varela, por sua vez, negou-se no sábado a fornecer um balanço oficial para não entrar em "uma competição de números". O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou na sexta-feira à noite a investigação do motim, um dos episódios mais violentos das últimas décadas nas prisões do país.
A oposição e organizações não governamentais criticaram a forma como a inspeção foi realizada, assim como a gestão do ministério de Assuntos Penitenciários, criado em meados de 2011 para solucionar a violência e a superlotação das prisões venezuelanas.
O Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) considerou que a inspeção "não foi devidamente coordenada nem aplicada pelos especialistas em trabalhos deste tipo, que fizeram um uso desproporcional da força". A opositora Mesa da Unidade Democrática afirmou que "os verdadeiros culpados pela violência vivida nas prisões do país são os funcionários que permitem a entrada de todo tipo de armas de fogo".
Segundo a OVP, a prisão de Uribana tem capacidade para 850 réus, mas abrigava 2.500. Além disso, encontra-se sob medidas provisórias de proteção da Corte Interamericana de Direitos Humanos desde 2007, que estabelecem que as autoridades devem velar para evitar a perda de vidas em seu interior.
As prisões venezuelanas sofrem com problemas de insalubridade, superlotação e violência, e em muitos casos são controladas por grupos de presos fortemente armados, que constantemente geram confrontos internos

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