Pagot se diz arrependido por pedir verba para campanha de Dilma
(do Terra)O ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot disse ter se arrependido de ter procurado as empresas com contrato na autarquia para pedir recursos para a campanha de Dilma Roussef à Presidência da República. "Não fiz nenhuma ilegalidade. Mas não foi ético", declarou nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira.
Em depoimento que já ultrapassa cinco horas, Pagot afirmou que a decisão de solicitar recursos para a campanha petista foi uma ação pessoal dele e que outros diretores do Dnit não tiveram qualquer interferência. "Foi uma coisa pessoal. Não estabeleci percentuais", disse.
Pagot havia relatado que se encontrou com o tesoureiro do PT, José De Filippi, que o pediu ajuda para arrecadar verbas para a campanha. Ele relatou que ligou e se comunicou com vários diretores para executar o pedido, atendido por várias empreiteiras.
O ex-diretor-geral chegou até a apresentar uma lista com cerca de 40 empreiteiras médias e grandes que tinham contratos com o órgão. Algumas chegaram a enviar os comprovantes para Pagot. "Algumas empresas, não passou de meia dúzia, repassavam os recibos. Depositavam legalmente na conta de campanha. Diversas empresas realmente fizeram a doação", confirmou.
Em resposta ao deputado Rubens Bueno (PPS-PR), ele relatou que o tesoureiro reapareceu após o segundo turno para pedir mais arrecadações. Pagot disse que teria negado e explicou que as empresas não tinham mais a contribuir.
Em outra parte de seu depoimento, Pagot confirmou o que já havia dito na imprensa a respeito da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Segundo ele, em 2010, Ideli o procurou para tratar de três convênios relacionados ao Estado de Santa Catarina. No final da reunião, ela teria dito: "sou candidata ao governo e preciso que me indique empresas para que eu possa buscar recursos".
Pagot teria respondido, segundo sua própria versão: "eu não posso, não devo e não vou fazer isso". O ex-diretor-geral do Dnit disse ter certeza de que, na época, a ministra ficou contrariada. O descontentamento de Ideli Salvatti foi apontado por Pagot, em entrevistas, como uma das possíveis razões para sua demissão do cargo.
O ex-diretor também falou da relação conturbada com o governo de São Paulo. Respondendo ao relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), Pagot apontou que Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, estatal paulista responsável pela infraestrutura rodoviária do Estado, o pressionou para liberar R$ 264 milhões em aditivos considerados ilegais por ele para a conclusão do trecho sul do Rodoanel. A obra, orçada em R$ 3,6 bilhões, tinha o repasse de R$ 1,2 bilhão da União. Pagot disse que se recusou a assinar o aditivo. "A obra foi contratada em empreitada global. Não tinha como aditivar", afirmou. Ele relatou também que após a recusa de colaborar, representantes do governo paulista teriam tentando recolher sua assinatura num Termo de Ajuste de Conduta (TAC), apresentado pelo Ministério Público Federal, o que também foi recusado.
Sobre a possibilidade desse dinheiro extra da obra do Rodoanel ter sido usado para campanhas do PSDB em São Paulo, Pagot negou qualquer ligação, contrapondo a reportagem da revista Isto É , que havia destacado que o ex-diretor sabia de repasses à líderes tucanos. "Eu ressaltei que era uma conversa de bêbado em botequim, que não dava para provar. Posteriormente, o repórter usou as palavras que quis e não as que eu disse", afirmou.
Delta
Sobre o crescimento da Construtora Delta nos últimos anos, Pagot disse que a empresa não obteve nenhum privilégio na sua gestão. Respondendo ao deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Pagot explicou que as obras do PAC teriam gerado um grande aumento na demanda e que muitas empresas, inclusive a Delta, aproveitaram o momento para crescer. "Houve uma carteira maior de obra, um acréscimo brutal na oferta de obras na praça. Inúmeras empresas aproveitaram o momento. Muitas cresceram muito mais que a Delta", destacou, rechaçando qualquer beneficiamento da empreiteira durante a sua gestão no Dnit.
Apesar das justificativas, o ex-dirigente do Dnit revelou que o senador cassado Demóstenes Torres lhe fez um pedido para beneficiar a Delta. Segundo ele, o ex-parlamentar pediu para ajudá-lo a conseguir obras para a empresa no Estado do Mato Grosso, durante um jantar em que estava o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, e o representante da construtora no Centro-Oeste, Claudio Abreu. O ex-diretor do Dnit afirmou que Demóstenes, após o jantar, falou reservadamente com ele, e confidenciou que tinha dívidas de campanha com a empreiteira. "'Preciso ter alguma obra com meu carimbo', ele disse. Eu falei que lamentava, não podia atendê-lo. Não tinha como o diretor do Dnit ir para o mercado e dizer: reservem uma obra para a Delta", declarou Pagot à CPI.
Demóstenes teria solicitado que as obras das BRs 242 e 080 no Mato Grosso, ainda em projeto, fossem concedidas à Delta.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
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