Ainda dividido, Egito comemora 1º ano do levante que derrubou Mubarak


(do UOL) No entanto, mesmo um ano depois da revolução, o Egito ainda vive uma grande divisão entre os principais grupos políticos, o que traz incerteza sobre o futuro do país.
Nesta quarta-feira, milhares de pessoas participam de uma manifestação na Praça Tahrir, no centro do Cairo, comemorando o primeiro aniversário do levante.
Alguns comemoram o sucesso dos partidos islâmicos nas primeiras eleições depois da queda de Mubarak, enquanto outros pedem mais reformas políticas.
Além disso, para marcar o aniversário, foi anunciado nessa terça-feira que a lei de emergência que vigora quase ininterruptamente no país há mais de 40 anos será revogada.
Enquanto isso, Mubarak está sendo julgado, acusado de ordenar a morte de manifestantes. O ex-presidente nega as acusações.
Centenas de pessoas que foram condenadas à prisão por tribunais militares tiveram sua libertação marcada para esta quarta-feira, como uma concessão aos manifestantes.
Já na última segunda-feira, o Parlamento eleito em novembro se reuniu pela primeira vez. O Partido da Liberdade e Justiça, ligado à Irmandade Muçulmana - banida durante o regime de Mubarak - tem a maioria das cadeiras.
Secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta (esq.), com Tantawi (Reuters)
Chefe da junta militar, Tantawi (à direita) anunciou fim da lei de emergência
A sessão foi aberta com um momento de silêncio em memória dos mortos nos protestos contra Mubarak.
Volta à Praça Tahrir
Na noite dessa terça, milhares de pessoas já se estavam acampadas na Praça Tahrir, ponto central dos protestos de um ano atrás. Pela manhã, outros milhares de manifestantes se juntaram a eles, representando tanto o lado liberal quanto o islâmico do novo espectro político do Egito.
O correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne diz que o clima até o momento é pacífico, lembrando mais uma grande festa a céu aberto do que um protesto político.
Segundo Leyne, os diversos grupos competem entre si para reivindicar a autoria da revolução, desde o movimento jovem que deu início aos protestos um ano atrás até a Irmandade Muçulmana, que agora domina o Parlamento egípcio, e o Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o poder após a queda de Mubarak, em fevereiro.
Os manifestantes que passaram a noite na praça ergueram barracas e entoaram cantos contra a junta militar, cuja saída imediata do poder é defendida por muitos.
"Nós não estamos aqui para comemorar, nós estamos aqui para derrubar o regime militar", disse o farmacêutico Iman Fahmy à agência AP. "Eles falharam com a revolução e não cumpriram nenhuma de suas metas."
Outros grupos cantaram "fora com o regime militar" e "revolução até a vitória, revolução em todas as ruas do Egito".
Mas algumas pessoas na praça disseram que os protestos devem acabar, e que os novos líderes devem ter tempo para levar o Egito adiante.
"O Conselho vai deixar o poder de qualquer jeito. Claro, a revolução está incompleta, mas isso não significa que nós devemos obstruir a vida", disse o contador Mohamed Othman à agência Reuters.


Para analista, jovens revolucionários são a facção política mais fraca (foto: Reuters)
Já outros disseram ter ido à praça para lembrar as mais de 850 pessoas mortas durante os protestos de 2011.
"Nós não devemos nos esquecer que houve um derramamento de sangue aqui. Isto não é uma comemoração, mas sim um grande evento para enviar nossas condolências a nossos irmãos que morreram entre 25 de janeiro passado e agora", disse Walid Saad.
Lei de emergência
Nessa terça-feira, o presidente da junta militar, marechal Mohamed Hussein Tantawi, disse que a lei de emergência - em vigor no Egito quase sem interrupções desde 1967 - deverá ser revogada.
No entanto, Tantawi disse que a lei ainda seria aplicada em casos de "vandalismo", mas sem dar mais detalhes.
Os militares usaram o termo "vândalos" para justificar a repressão às pessoas que demandavam o retorno a um regime civil.
O fim da lei era uma das principais reivindicações dos manifestantes. Em seus quase 30 anos no poder, Mubarak prometeu várias vezes revogar o decreto, mas nunca cumpriu a promessa.
No ano passado, os generais ampliaram a abrangência da lei de emergência para incluir greves de trabalhadores, transtornos no trânsito e a divulgação de informações falsas.
A junta militar também anunciou que mais de 1,9 mil prisioneiros foram anistiados por Tantawi. Entre eles, estaria o famoso blogueiro Michael Nabil, detido por insultar as forças armadas.
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