"Aqui no Egito insistimos na continuidade de seu mandato até o final de setembro", declarou Shafiq, que ressaltou que "é preciso cobrir muitos pontos antes que ele saia".
"Acho que realmente necessitamos de sua presença", acrescentou o premiê, ao destacar que se Mubarak seguir à frente do país até setembro será muito mais fácil completar a missão que têm em mãos.
As declarações foram feitas no mesmo dia em que o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e representantes da oposição fecharam acordo para fazer reformas na Constituição e encerrar a Lei de Emergência, vigente no país desde 1981.
Seliman El Oteifi/Efe | ||
O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman (centro), reúne-se com representantes de partidos políticos da oposição no Cairo |
O porta-voz do governo, Magdi Radi, informou que as reformas devem ser implementadas antes da primeira semana de março.
Segundo ele, houve um "consenso sobre a formação de um comitê que contará com o poder judiciário e um certo número de representantes políticos, para estudar e propor as emendas constitucionais e legislativas que se fizerem necessárias".
Radi afirmou também que os participantes da reunião concordaram com uma "transição pacífica do poder, baseada na Constituição". No encontro, o governo se comprometeu a criar um órgão para receber queixas sobre prisioneiros políticos, respeitar a liberdade de imprensa e não ferir os manifestantes que pedem a saída de Mubarak.
A Irmandade Muçulmana, um dos grupos mais influentes da oposição ao regime, participou das negociações, entrando oficialmente no diálogo para colocar fim à atual crise do país.
As conversas com o vice-presidente reuniram representantes da Irmandade Muçulmana, do Partido Wafd (liberal) e do Tagammou (esquerda), que fazem parte de um comitê escolhido por grupos defensores da democracia. Estes lançaram o movimento de contestação que exige, desde 25 de janeiro, a saída de Mubarak.
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, apoiou neste domingo a participação da Irmandade Muçulmana no diálogo com as autoridades do Egito.
Nas últimas declarações, representantes norte-americanos apontaram Suleiman como a pessoa mais indicada para conduzir um governo de transição no país.
CRÍTICAS
O opositor Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da AIEA (agência atômica das Nações Unidas), criticou neste domingo as negociações entre o governo do Egito e representantes da oposição e disse não ter sido convidado para as conversações.
ElBaradei afirmou que as negociações encabeçadas pelo vice-presidente Omar Suleiman foram dirigidas pelas mesmas pessoas que comandaram o país nos últimos 30 anos e que, por isso, sofrem de falta de credibilidade.
Segundo ele, as negociações não são um passo em direção à mudança que os manifestantes antigoverno têm demandado nos últimos 13 dias, pedindo pela saída do poder do ditador egípcio, Hosni Mubarak.
Hannibal Hanschke/Efe | ||
Pelo 13º dia seguido, manifestantes que pedem a queda do ditador Hosni Mubarak protestam na praça Tahrir, no Cairo |
Neste domingo, Suleiman reuniu-se com grupos de oposição, incluindo a oficialmente banida Irmandade Muçulmana. No dia anterior, o vice-presidente --ex- chefe da inteligência egípcia-- conversara com figuras opositoras para discutir opções para uma transição de poder.
"Isso [a negociação] foi dirigido pelo vice-presidente Suleiman", afirmou o Nobel da Paz. "É tudo dirigido pelos militares que são parte do problema."
"Não fui convidado para participar das negociações ou diálogo mas tenho acompanhado o que está acontecendo", completou.
No entanto, um representando do grupo de ElBaradei, a Associação Nacional por Mudança, se reuniu com Suleiman neste domingo e descreveu as conversas como um positivo primeiro passo.
ElBaradei disse que ainda há uma "grande falta de confiança" entre o governo e manifestantes e que há temor de que o governo recue e volte ao poder.
"Se você realmente deseja construir confiança, você precisa engajar o resto do povo egípcio --os civis."
Fonte: Folha
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