Obama pressiona ditador egípcio a atender chamado por mudanças

Em entrevista coletiva ao lado do premiê canadense, Stephen Harper, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a pressionar o ditador egípcio a atender ao chamado do povo por uma ordenada transição de poder naquele país. Ele disse ainda esperar que Hosni Mubarak --há quase 30 anos no poder-- "tome a decisão certa".
"Eu sugeri a ele que [Mubarak] precisa consultar aqueles que estão ao seu redor, escutar o povo egípcio e tomar uma decisão sobre o futuro. Espero que ele tome a decisão certa", disse.

Charles Dharapak/AP
O presidente americano, Barack Obama, pressiona ditador egípcio Hosni Mubarak a atender apelo por mudanças
O presidente americano, Barack Obama, pressiona ditador egípcio Hosni Mubarak a atender apelo por mudanças
Embora tenha evitado fazer afirmações incisivas sobre a crise ou pedir publicamente a renúncia do ditador egípcio, Obama foi categórico a reiterar que a "transição deve começar agora".
Neste 11º dia de manifestações e protestos nas ruas, o presidente americano disse que Washington está em consulta com a comunidade internacional e o governo egípcio para tentar acelerar o processo de mudança política. Obama, porém, excluiu a possibilidade de uma intervenção direta.
"O futuro do Egito será decidido pelo povo do egípcio. Em virtude do que vem acontecendo nos últimos dias, estamos certos de que somente a transição solucionará a crise. Um retorno ao regime não resolverá, a opressão não resolverá", afirmou.
Obama condenou ainda os ataques da quinta-feira a ativistas de direitos humanos e jornalistas estrangeiros. Disse que a transição e as reformas a serem implementadas no país devem ser verdadeiras para que surtam efeito. "Incluir a oposição assim como todos os outros partidos políticos é essencial", afirmou.
CASA BRANCA
Mais cedo Robert Gibbs, o porta-voz da Casa Branca, disse em entrevista coletiva em Washington que o governo americano está insatisfeito com as medidas anunciadas no Egito até o momento, e que espera "'mudanças concretas", acrescentando que somente desta forma a revolta cessará nas ruas do país.
Pouco depois, o Pentágono anunciou que o secretário da Defesa americano, Robert Gates, manteve mais uma rodada de conversas com seu colega egípcio, Mohamed Hussein Tantawi, que, de acordo com informações recebidas pelos EUA, reuniu-se hoje com os manifestantes na praça Tahrir, palco dos protestos no centro do Cairo.
Anteriormente o "New York Times" indicou que a Casa Branca discute com dirigentes egípcios "várias opções" para que Mubarak saia do poder sem desestabilizar o país. Uma das possibilidades seria ceder o poder a um governo de transição dirigido pelo vice-presidente Omar Suleiman.
Por outro lado, no Egito, o premiê Ahmed Shafiq disse à rede de TV Al Arabiya que é "pouco provável" que o ditador do país ceda agora o poder a seu vice, Omar Suleiman, como teria sido cogitado pelo governo dos EUA e pela comunidade internacional, que continuam a fazer pressão pela transição de poder imediata.
"Precisamos do presidente por razões legislativas", disse ele à TV Al Arabiya.

AFP/Al-Masriya
Premiê egípcio Ahmed Shafiq; ele rejeita saída imediata de Mubarak
Premiê egípcio Ahmed Shafiq durante coletiva ontem; em entrevista, ele rejeita saída imediata de Mubarak
Autoridades egípcias parecem resistir a fazer a transição imediata. "Mais de 95% do povo egípcio votaria para que o presidente completasse seu mandato, e não saísse agora, como os EUA e alguns países ocidentais defendem", disse Shafiq.
O premiê e sua equipe tentam se redimir e mostrar uma face moderada ao público, pedindo desculpas pela violência causadas por partidários de Mubarak nas ruas, e prometendo implementar a ordem e a democracia.

Tarek Fawzy/AP
De véu, mulheres egípcias gritam frases contra o ditador Hosni Mubarak na cidade de Alexandria
De véu, mulheres egípcias gritam frases contra o ditador Hosni Mubarak na cidade de Alexandria
O novo ministro das Finanças, Samir Radwan, disse à agência Reuters que o prejuízo econômico devido aos 11 dias de protestos será "enorme". O turismo, centrado nas pirâmides e nos resorts à beira mar, já sofre grande perdas. Segundo Radwan, o governo disponibilizou um fundo de US$ 850 milhões para indenizar as pessoas que tiveram suas propriedades danificadas.
Centenas de milhares continuam nas ruas do Cairo e de outras cidades, pedindo a queda de Mubarak, que está há quase 30 anos no poder. O principal centro dos protestos é a praça Tahrir, no centro da capital.
A manifestação estava sendo realizada pacificamente no Cairo nos primeiros dias, e os partidários do presidente --que provocaram confrontos violentos nesta quarta e quinta-feira-- não estavam visíveis perto da praça, onde o Exército mobilizou dezenas de veículos. O movimento de contestação, chamado "Sexta-feira da Partida" esperava reunir 1 milhão de pessoas no país, no 11º dia da revolta que já deixou ao menos 300 mortos e milhares de feridos, segundo a ONU.
"É um movimento egípcio. Todo mundo participou, tanto muçulmanos como cristãos, para exigir os direitos que lhes roubaram", declarou o imã que liderou a oração, identificado como Khaled al Marakbi pelos fiéis reunidos na praça.

Mohammed Abed/AFP
Egípcio ferido participa das orações do meio-dia em Tahrir, no Cairo
Egípcio ferido participa das orações do meio-dia em Tahrir, no Cairo
A oração ocorreu sob os olhares atentos dos militares, mas de maneira pacífica após dois dias de violentos confrontos entre manifestantes da oposição e apoiadores de Mubarak, no poder há 30 anos.
O ritual, dirigido por um imame, foi seguido com grande fervor por manifestantes da oposição que estão chegando maciçamente ao local. Em seu sermão, o imame solicitou orações pelos mortos da revolta popular um pedido que foi seguido com lágrimas por muitos dos participantes do ato.
Tão logo acabou a cerimônia, as pessoas começaram a gritar "vá embora, vá embora já" para pedir a renúncia de Mubarak.

Ahmed Ali/AP
Manifestantes da oposição gritam slogans contra Mubarak em megaprotesto pela queda do ditador egípcio
Manifestantes da oposição gritam slogans contra Mubarak em megaprotesto pela queda do ditador egípcio
Estava prevista uma marcha da praça Tahrir até o Palácio Presidencial, mas até o momento não há notícias de movimentação.
O canal de TV Al Jazzera registra uma manifestação com milhares de egípcios também em Alexandria.
O ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantaui, foi pela manhã à praça para avaliar a situação, na primeira visita de um alto dirigente do regime, desde o começo da contestação.
"O homem já disse a vocês que não vai se apresentar", lançou à multidão, em relação a Mubarak.
"Se pararmos (o movimento), a vingança será terrível", reagiu um manifestante, Khaled Abdallah.
Além do Cairo, muitos egípcios também foram às ruas de outras cidades do Egito -- dezenas de milhares em Alexandria (norte), 10 mil em Menoufiya (norte), 20 mil em Mahalla (delta do Nilo), 5.000 em Suez (leste), 5.000 em Assiout (centro) e dezenas de milhares em Luxor (sul), segundo fontes da segurança.
PERSONALIDADES
Estrela diplomática do mundo árabe, o chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, muito popular no país, foi à praça Tahrir para ajudar na tarefa de "pacificação dos ânimos", segundo seu escritório. Pela manhã, ele não excluiu a possibilidade de se apresentar à sucessão de Moubarak, que já disse não querer disputar um novo mandato.
Questionado sobre uma candidatura presidencial, ele respondeu: "Por que não? Estou à disposição do meu país, claro. Estou pronto a servir como um cidadão que tem o direito a ser candidato", disse o secretário. Fundada há 66 anos, a Liga Árabe reúne 22 países e envolve cerca de 200 milhões de pessoas do mundo árabe.

Jean Christophe Bott-26.jan.2011/Efe
Secretário-geral da Liga Árabe Amr Moussa; ele diz que pode se candidatar à sucessão de Mubarak
Secretário-geral da Liga Árabe Amr Moussa; ele diz que pode se candidatar à sucessão de Mubarak
"Eu não creio que ele [Mubarak] vá sair. Creio que vai ficar até ao final de agosto", disse Moussa, ressaltando, no entanto, que há "coisas fora do comum acontecendo e há caos, então talvez ele tome uma decisão diferente".
Moussa também não excluiu a hipótese de integrar um eventual governo de transição e desejou um "consenso nacional". "Não se pode ignorar as forças políticas, incluindo a Irmandade Muçulmana", disse ele, referindo-se ao principal movimento da oposição do Egito.
O guia supremo da Irmandade Muçulmana, principal força da oposição, Mohammed Badie, declarou que estava pronto ao diálogo com Suleiman, mas apenas após a partida de Mubarak.
Dois pequenos partidos, o Wafd (liberal) e o Tagammou (esquerda), aceitaram a oferta de diálogo de Suleiman.
O guia supremo do Irã, Ali Khamenei, cujo país mantém relações frias com o Cairo, devido ao tratado de paz assinado com Israel, fez um apelo a um regime islâmico no Egito.
Na quarta e na quinta-feira, confrontos violentos opuseram partidários do regime e os que são contra na praça Tahrir, fazendo pelo menos oito mortos e milhares de feridos, segundo fontes oficiais e médicas.
CANSADO DO PODER
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da rede de TV americana ABC, Mubarak disse ontem que "estava cansado de ser presidente" mas que não podia deixar o cargo "por medo de que o país mergulhasse no caos".
"Não me importo com o que as pessoas dizem de mim. Agora eu estou preocupado com o meu país, me importo com o Egito", disse Mubarak, enquanto violentos protestos contra ele chegam ao décimo dia seguido.
"Estou muito triste com (o que aconteceu) ontem. Não quero ver os egípcios lutando entre si", afirmou ele.
"Há ações concretas que se podem tomar e o vice-presidente pode tomá-las até que um caminho de mudança real atenue a instabilidade e assegure que não se aprofunde o caos", disse.
'Hay acciones concretas que se pueden tomar y el vicepresidente puede tomar hacia un camino de cambio real que atenúe la inestabilidad y asegure que no profundicemos el caos que él (Mubarak) describe', dijo Gibbs.
Fonte: Folha
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